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Era bom conversar.
Sempre fui do tipo que ouve.
Mas nunca pensei que pudesse ser ouvido. Veja bem, para um cara normal eu não
sou muito de falar. Ainda que silencioso aqui fora, minha mente explodia em
falatórios intermináveis. Dentro do meu imaginário, as pessoas seguiam um
roteiro sólido de interlucubrações, reticências, diálogos e travessões.
Enquanto eu divagava, os
meus interlocutores estendiam suas narrativas, ora enfadonhas, ora
interessantes. O fato era que eu sabia, lá no fundo — e também no raso — eles
não pretendiam me ouvir. Não se tratava
uma via de mão dupla. Eu era apenas sua caixa de ressonância.
Embora meus ouvidos fossem
ótimos, minhas cordas vocais travavam, ressecadas, esquecidas de como
verborrar.
Estou lhe incomodando com
esse papo chato, querida? Até que para alguém que não fala estou me excedendo
hoje... Acho que é o vinho. Sabia que é a primeira vez que tomo vinho? Nunca
tive oportunidade...
Onde estávamos? Ah, sim! Minha
infância foi tranquila. Meus pais morreram cedo e minha avó me criou. Ela era
surda. Na escola nada demais, eu simplesmente não estava ali. Na faculdade a
mesma coisa. Sei lá, sempre achei que havia uma bolha me envolvendo e ninguém
conseguia me ver, me ouvir.
Até que um dia, na
faculdade, encontrei todos os outros. Lembro da primeira vez que dissecamos um
corpo. O Enjoo de alguns, a repulsa de outros. Um rapaz desmaiou e não o vi
mais depois disso.
Acabei me acostumando com
essas amizades curtas de dois ou três dias. Gostei de uma ou outra garota, mas
nunca levamos nada à diante. Talvez seja essa minha mania de falar pouco e
ainda assim com raras pessoas.
Só você faz isso comigo,
Lousiane. Esse negócio de me deixar a vontade, de me fazer falar de coisas que
nem eu mesmo sabia ter guardado.
O que desejo lhe dizer minha
querida, nessa noite tão especial é que você é o meu grande amor. Apaixonei-me
à primeira vista. Lembro de quando lhe tirei da mortalha plástica do instituto.
Aquela pele pálida, os
cabelos castanhos, quase louros. Hoje olho para você, tão linda, aqui na minha frente e me
pergunto como deve ter sido sua história antes de morrer. Esses seus olhos
verdes, são perfeitos! Você gostou deles, querida? Tive que encomendar de fora.
Valeu apena, não é mesmo? Está estonteante.
Você passou um bom tempo no
instituto comigo. Descobrir sua causa
mortis foi simples. Overdose. Imaginei muitas histórias para você e em
nenhuma delas uma mulher tão linda e tão saudável morria por drogas. Será que
um dia vai me contar, querida?
Os dias foram passando e
ninguém apareceu para reclamar seu corpo. Então chegou o aviso de que você
seria enterrada como indigente. Senti uma tristeza tão profunda e pensei que
dessa vez morreria também.
Na madrugada do mesmo dia em
que te levaram embora, pulei o muro do cemitério e identifiquei a vala pública
onde a deixaram. Eu cuidei de tudo. O caminho para casa foi de pura ansiedade.
Só você mesmo para me obrigar a cometer uma contravenção dessas! Se isso não é
amor, o que mais seria?
Mal chegamos, usei todo o
meu talento para lhe imortalizar. Você está perfeita Lousiene e a terra jamais
poderá se alimentar de tua beleza.
Aliás querida, nunca
perguntei se gostou do nome que lhe dei. Lousiene parece meio francês, não
parece?
Feliz dia dos namorados, minha
querida. E que nosso amor dure para
sempre.
E esse foi um conto de Dany Fernandez
Bom gente, quem escreveu essa doideira fui eu mesma, aqui do Blog! Se curtiu esse conto, quer trocar ideia ou me dar uns toques, é só comentar aqui embaixo! \O/
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