Quando
amigos meus abriram campanhas para o lançamento de livros, me dei conta de um
novo mundo dentro do território da publicação: O financiamento coletivo de
livros. Então pensei: “poxa, se nem eu que vivo dentro desse mundo literário
tinha acordado para isso, imagina o tamanho da galera que está por fora…” então
arregacei as mangas e durante algumas semanas mergulhei fundo em pesquisas e
perguntas para trazer a vocês um panorama do que é o financiamento coletivo no
Brasil, principalmente no tocante a livros (que é o que mais interessa aos
livrólotras!).
Quando falamos de financiamento coletivo aqui no Brasil, ainda
percebemos certa estranheza na expressão das pessoas. “Mas isso é consórcio? É
vaquinha?” Crowdfunding, ou melhor, Financiamento Coletivo é uma maneira de
viabilizar projetos independentes. Cada um doa um pouquinho e de doação em
doação juntamos o montante para dar vida a muitos projetos que continuariam
apenas no mundo das promessas se dependessem dos recursos tradicionais para
nascerem. Então, resumindo muito, o financiamento coletivo é uma vaquinha sim,
mas todo mundo sai ganhando!
Inicialmente, o crowdfunding foi uma inovação abraçada por
músicos, que encontraram uma alternativa às gravadoras. Um caso que gosto de
citar é o da Cantora americana Amanda Palmer, que sempre trabalhou de forma independente
e apaixonada e resolveu pedir ajuda aos fãs para arrecadar dinheiro: conseguiu
mais de US$ 1 milhão, quando tinha pedido apenas US$ 100 mil. O projeto “Who Killed Amanda Palmer?” teve, com essa injeção de investimento
dos fãs, além do álbum, um livro com fotos e micro contos do escritor Neil
Gaiman e uma turnê, sendo o maior projeto musical até hoje a conseguir a maior
doação na história desse tipo de financiamento. Ela falou dessa experiência
incrível, que chama de “A arte de Pedir” em uma palestra, no ano passado, que
você pode conferir devidamente legendada aqui.
E essa “arte de pedir” já se espalhou por outras áreas como
projetos literários, jornalísticos, de fotografia, cinema, jogos, moda,
quadrinhos, teatro, dança, web, novas tecnologias sustentáveis e tudo mais que
a cabeça inventar pode ser financiado através dessas salvadoras vaquinhas
online. Existem várias páginas que fazem esse tipo de captação. Lá fora, uma
das mais conhecidas é a página do “Kickstater” e aqui no Brasil é a Catarse.
Enquanto pesquisava para essa matéria, encontrei uma pesquisa
super séria, feita em parceria entre o Catarse e a Chorus, empresa de pesquisa
com foco em projetos ligados a cultura e sociedade, mostrando como anda o
cenário do Financiamento coletivo aqui no Brasil e questões como “quem costuma
doar? Quem costuma procurar por esse financiamento? Quantas pessoas conhecem e
praticam o crowdfunding e como podemos tornar essa modalidade mais conhecida”
foram explorados e respondidos. Para minha surpresa os resultados foram mais
otimistas do que poderia supor e mostram o grande potencial que este método de
parceria tem aqui em nossas terras!
O grande desafio neste momento é exatamente fazer mais pessoas
conhecerem o financiamento coletivo. E antes que eu esqueça, você pode acessar
essa pesquisa nesse link. Fiquei animada com esse
prospecto, mas ainda estava com a pulga atrás da orelha, afinal essa pesquisa é
um panorama geral e quando comecei a escrever essa matéria meu intuito era
saber sobre o financiamento coletivo de livros. Lá fora eu já sabia que dava
certo, mas e aqui no Brasil? Sem saber muito bem por onde começar e
acompanhando dois projetos de amigos que estavam na página de crowdfunding para
livros Bookstart ,
resolvi fazer algumas perguntinhas pro pessoal de lá, que aliás, já aproveito
para agradecer pela força que me deram nessa matéria!
Dany – O Financiamento coletivo de livros
no Brasil é promissor? Existem exemplos disso?
Bookstart - A tecnologia e a internet são ferramentas
transformadoras e possibilitam novos modelos de negócios. A América Latina tem
ótimas taxas de adaptação ao comércio eletrônico. Dentro deste contexto estamos
trazendo para o mercado editorial brasileiro um modelo já consagrado no
exterior, a exemplo do Unbound, plataforma focada no mercado editorial, e o
Kickstarter para todos os tipos de projetos. Este último já tem mais de 1
bilhão de dólares em apoios para mais de 64 mil projetos. Todos os dias
milhares de novas obras são engavetadas por falta de oportunidade nas editoras
e/ou falta de financiamento. O financiamento coletivo de livros é muito
promissor porque traz novas possibilidades tanto para autores quanto para
leitores. O modelo vai além do financiamento em si, ele permite aos leitores
uma participação ativa no que é publicado e naquilo que eles desejam consumir.
Para os autores é uma forma de divulgação do trabalho e a possibilidade de
criar um primeiro contato entre sua obra e o público.
Dany – Existem outros sites de
financiamento coletivo para diversos projetos (como o kickstarter) onde
inclusive, tem projetos de livros também. Qual a principal diferença entre a
Bookstart e os outros portais de financiamento?
Bookstart - Nós temos foco e público selecionado. Ao
entrar no Bookstart, o usuário não divide a atenção com jogos de computador,
festas e outros projetos, nosso público entra no Bookstart para apoiar
literatura. Além disso, desde o primeiro momento colocamos o autor em contato
com o Bruno Castro, nosso editor-chefe, que auxilia o autor na estruturação da
campanha e gerencia as diversas etapas da produção do livro, da análise dos
originais à impressão. Ou seja: oferecemos ao autor os serviços profissionais
que ele encontraria numa editora, associados a uma plataforma de interação com
seu público que se torna patrocinador do projeto.
Dany- Em uma palestra da cantora Amanda
Palmer, que conseguiu lançar um de seus projetos mais importantes graças ao
financiamento coletivo, ela diz que os fãs, aqueles que acreditam no seu
trabalho, querem vê-lo funcionando e estão dispostos a financiá-lo. Partindo
dessa premissa, será que aqui no Brasil temos pessoas dispostas a acreditar nos
autores nacionais independentes e financiar seus projetos?
Bookstart – Com certeza temos. É muito bom fazer
parte de algo em que você acredita. Todos que apóiam uma campanha acabam
torcendo por ela e fazem questão de divulgá-la porque acreditam no trabalho do
autor e querem ver seu livro publicado e lido. É maravilhoso ver isso
acontecer. Nós sabemos o quanto isso é importante, principalmente para o autor
talentoso que está começando, para quem essa força extra faz toda a diferença.
Para nós do Bookstart é uma motivação muito grande toda vez que vemos um
trabalho sendo reconhecido, seja ele de qualquer categoria ou plataforma.
Dany- O financiamento coletivo de livros é
uma tendência passageira ou um movimento social que veio para ficar?
Bookstart – Já deu certo lá fora, está dando certo
aqui também e, dentro de alguns anos, cairá de vez no gosto do público. Arrisco
até dizer que o próximo livro de cabeceira de muitas pessoas será uma obra
publicada por financiamento coletivo. É uma tendência irreversível e o
Bookstart tem muita satisfação em ser um dos agentes dessa mudança.
Depois dessas dúvidas sanadas me senti bem mais confiante e meus olhos
brilharam, sem contar as matérias que encontrei de autores NACIONAIS que
conseguiram patrocínio através do financiamento coletivo e que você pode
conferir clicando aqui e aqui. Imagine quantos projetos sensacionais poderão vir ao
mundo! É simplesmente incrível saber que podemos fazer parte dessa corrente!
Para quem já entendeu o que é mas ainda
não sabe como funciona…
No caso de livros, o autor envia o seu projeto para a Bookstart ou
qualquer outra plataforma com que deseje trabalhar. Aqui vale lembrar que o
autor se torna o total responsável pelo planejamento do projeto que vai desde o
conteúdo do livro até as recompensas e divulgação da campanha. A partir daqui,
a plataforma faz uma triagem a fim de eliminar possíveis “aproveitadores” ou
projetos sem pé nem cabeça. Quando tudo é acertado, o projeto se torna aberto
para a captação e os autores passam a compartilhar sua ideia com pessoas que
tenham interesse em apoiá-la financeiramente.
Os projetos têm que ter uma meta de arrecadação e um prazo que
costuma ser de até 60 dias. Quando chega o prazo final, existem apenas duas
opções: Tudo ou Nada.
Tudo: se a meta for atingida ou até superada,
o projeto recebe o montante arrecadado.
Nada: se a meta não for atingida, o valor das
doações é devolvido para cada um dos apoiadores e o projeto não leva nada, mas
também não arca com nenhum custo.
Enquanto finalizava essa matéria, aqueles projetos dos meus amigos
que falei lááá no começo desse texto, atingiram a meta e foram além do
esperado! Em breve dois livros maravilhosos estarão livres por aí! É a mágica
da parceria e da união entre autores e leitores. Pensando bem, é exatamente
isso que o financiamento coletivo de livros nos oferece: a chance de como
leitores, escolhermos o que queremos ler. Não precisamos mais ficar sentadinhos
esperando o próximo lançamento de um “best seller” enlatado “made in USA”,
quando temos o poder de inverter o jogo e transformar a hierarquia editorial do
que “vende mais” para o que “Se lê” mais.
Imagine um mundo em que a burocracia é deixada de lado e de forma
mais simples e direta, autores, pequenas editoras e leitores formam uma aliança
para trazer ao mundo projetos que estavam fadados a serem esquecidos numa
gaveta escura. Imagine que você faz parte desse novo mundo onde cada um ajuda
como e com o que pode e mesmo assim fazer toda a diferença. Imagine
simplesmente não ter limites. Imagine sonhar e saber que mais pessoas sonharão
junto com você e assim quem sabe, viveremos os versos da música “Prelúdio” do
Raul Seixas: “Sonho que se sonho só é só um sonho que se sonha só, mas sonho
que se sonha junto é realidade”. O mais legal disso tudo é saber que esse mundo
novo não é futuro, não é só uma ideia: É presente, é real e fazer parte dele é
apenas uma questão de escolha.